De um lado, quem polui sem nenhuma consciência do mal que faz para o convívio social; do outro, pessoas dispostas a lutar por bairros mais limpos e melhores para se viver. Conviver com ruas sujas é uma realidade a que, infelizmente, estamos mais do que acostumados. Apesar de inúmeras campanhas, da educação nas escolas e dos pais, são muitas as pessoas sem consciência, sem educação e que só pensam em seu próprio bem-estar. Pessoas que jogam lixo no chão ou pela janela do carro, limpam sua calçada com água, não catam as fezes de seus cachorros, colocam o lixo na lixeira do vizinho ou, ainda, aqueles que acondicionam e jogam seu lixo de qualquer jeito na rua são alguns dos muitos maus exemplos.
O lixo reúne uma grande variedade de resíduos de atividades humanas e de outras fontes. Amontoados de detritos lançados ao solo, nas ruas ou mesmo nos arredores das cidades, tornam-se incômodos e desagradáveis. E, se não for bem acondicionado, pode causar sérios problemas sanitários. Além do mau cheiro, atrai moscas, mosquitos, baratas, ratos e outros parasitas, que são fontes de numerosas doenças transmissíveis ao homem.
Um simples copo descartável ou um panfleto jogado no chão, somado ao papel de chiclete ou à casca de fruta que outra pessoa deixou cair, contribuem significativamente também para o alagamento das vias em épocas de chuva, assim como para a poluição visual, o aumento dos gastos com limpeza urbana, a contaminação do solo e do lençol freático.
O jornal Jaraguá em Foco, em parceria com comerciantes e associações da região, iniciou uma campanha para a conscientização do cuidado com o lixo. O objetivo é a união em prol de um bairro mais limpo, saudável e melhor para se viver.
CONSCIENTIZAÇÃO
A moradora e comerciante Gil Azevedo Mariane, uma das pessoas mais engajadas na campanha, observa as ruas muito sujas desde que veio morar na região, há 10 anos. Quando se tornou comerciante e passou a trabalhar próximo de casa, percebeu mais de perto a sujeira presente nas ruas, nas calçadas e nas praças. Ela chegou a solicitar à Prefeitura que realizasse a limpeza, no entanto, constatou que o problema não é de responsabilidade apenas do poder público, mas de toda a população. “O que eu posso fazer para melhorar a minha rua, o meu bairro? Esse é um questionamento que tem que partir de todos”, propõe, considerando esses espaços como uma extensão da própria casa.
A coleta de lixo na região do Jaraguá e do Dona Clara, assim como em grande parte dos bairros da Pampulha, ocorre às segundas, quartas e sextas-feiras, sempre pela manhã. É importante ressaltar que o lixo deve ser colocado nas ruas o mais próximo possível do momento em que será recolhido. Nunca deve ser colocado no dia anterior ou no fim de semana, pois, além de ser alvo de animais e catadores, pode facilitar a disseminação de doenças, contribuir para o mau cheiro e para a poluição visual.
COLETA SELETIVA
Depois de recolhido, o resíduo que produzimos pode ter dois destinos: o lixão ou os aterros sanitários. O primeiro é proibido no Brasil pelo artigo 47 da lei n° 12.305/10, por causar danos à saúde e ao meio ambiente, apesar de ainda ser comum encontrá-lo. Sendo assim, a melhor opção são os aterros sanitários, devido à impermeabilização do solo, ao tratamento do lixo e à possibilidade de recuperação do local, que pode ser transformado em uma área verde. No caso de Belo Horizonte, o aterro de Macaúbas, em Sabará, localizado na MG-5, recebe não apenas o lixo da capital, mas também de outros municípios da região metropolitana.
A coleta seletiva consiste na divisão do lixo entre quatro principais grupos: seco, úmido, perigoso e rejeitos. Vale lembrar que os rejeitos incluem, por exemplo, os resíduos de banheiro, por isso, não têm valor econômico e não podem ser reciclados. Assim, são os únicos que devem ter como destino o aterro sanitário.
O lixo seco refere-se aos papéis, plásticos, vidros e metais, os quais devem passar por uma higiene superficial para evitar o mau cheiro e a proliferação de insetos. Apesar da ausência de um serviço semanal de coleta seletiva domiciliar, é possível recorrer aos Pontos Verdes, que consistem em grandes reservatórios para o descarte desse tipo de lixo. Confira a relação dos pontos da Pampulha no final da matéria.
RECICLAGEM
O catador de materiais recicláveis representa um papel importante ao recolher, selecionar e encaminhar resíduos para os centros de triagem, de onde são enviados para as respectivas indústrias de reciclagem. Tal procedimento reduz a exploração de mais recursos naturais. Morador do Jaraguá há 23 anos, Edison Coelho separa e limpa todo o material reciclável do lixo comum e, após juntar uma quantidade considerável, ele mesmo leva à cooperativa. “Começamos com esse hábito quando minha filha disse que em nosso bairro não havia coleta seletiva de lixo. Aí, percebi que isso não deveria ser motivo para não reciclarmos”, conta.
As sobras de alimentos crus ou já cozidos, o chamado lixo úmido, representam mais da metade do que é jogado fora e são as principais responsáveis pela lotação dos aterros. Porém, além de evitar o desperdício, uma boa ideia é realizar a compostagem, processo natural no qual os microrganismos digerem a matéria orgânica, transformando-a em adubo natural para as plantas e as hortas domésticas.
Determinado tipo de detrito é perigoso quando contém substâncias tóxicas ao meio ambiente, como pilhas e baterias, lâmpadas fluorescentes, produtos eletrônicos e medicamentos. Por isso, existe a logística reversa, que responsabiliza o fabricante pelo destino final de seus produtos com o objetivo de não contaminar o ar, a água e a terra. No entanto, os consumidores são encarregados de descartar os dejetos nos locais de coleta (nunca no lixo comum).
RESPONSABILIDADE COLETIVA
Formada em Serviço Social, Hilda da Silva de Souza trabalha e mora no bairro Dona Clara há 16 anos. Ela adotou a Praça Albert Sabin (ao lado do Colégio Dona Clara - Unidade Sebastião de Brito) há seis anos, onde realiza um projeto social. Lá, uma série de iniciativas são realizadas em prol da reciclagem, visando também a caridade e utilizando sempre o trabalho voluntário. Todo o lixo é devidamente separado e os moradores fazem doações daquilo que não querem mais, mas que ainda pode ser utilizado por quem precisa. Ademais, garrafas pet são penduradas nas árvores com sacolas plásticas reutilizáveis para as pessoas recolherem as fezes de seus animais. Hilda participa ainda do Projeto “Adote o Verde”, da Prefeitura de Belo Horizonte, que tem entre suas propostas separar as folhas que caem das árvores para serem utilizadas como adubo para plantas.
Outro exemplo é a vendedora autônoma Cléa Regina Martins, que mora no bairro Suzana desde que nasceu. Ela passa mais tempo na rua limpando um bueiro ou varrendo a calçada do que vendendo. Cléa busca atender às emergências de todos que estão precisando, mesmo que sejam de outros bairros. “O caminhão é chamado para recolher o lixo que moradores e pessoas de fora descartaram no lugar errado. No entanto, pouco tempo depois, a sujeira já aparece novamente. Sozinha, eu não dou conta. É com a união de todos que se consegue resultados. Temos de ter atitude de pegar e fazer”, desabafa, mas ainda acreditando na missão de ajudar os outros.
A solução depende de todos! Comerciantes e moradores do Jaraguá e região, além dos demais bairros da Pampulha, juntos podemos ter um bairro mais limpo e atrativo. Vamos ter o cuidado ainda maior com o nosso lixo a partir de hoje? (Luísa Olímpia e Fabily Rodrigues)
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